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Editoriais do maestro Ronaldo Faleiros (in memorian)01/01/2010 DESAFIO AOS QUE ACREDITAM E QUEREM CONSTRUIR No ano em que a Confederação Nacional de Bandas e Fanfarras (CNBF) completara’ quinze anos de sua fundação, e’ hora de revermos suas conquistas, erros e acertos, sua influencia no cenário nacional e principalmente o aprimoramento dos seus objetivos que traçam a postura de atuação das corporações musicais filiadas através das representações estaduais. Ao longo desses quinze anos da CNBF, e depois de dezessete de execução do Campeonato Nacional de Bandas e Fanfarras, primamos pela pratica da discussão democrática, anualmente, no debate de posturas e regulamentos. Inicialmente, quando implantado em 1990, dentro do Projeto Bandas e Fanfarras executado pelo Governo do Estado de São Paulo, o Campeonato Nacional teve por base de regulamento o existente na implantação do Campeonato Estadual instituído em 1988, oriundo de congressos técnicos estaduais desde sua implantação. Como a visão nacional era divergente em vários estados, instalou-se em 1991, em Goiânia, GO, o 1º Encontro Nacional e Congresso Técnico que estabeleceu a partir de então os parâmetros para o regulamento do Campeonato Nacional. Antes disso, o acesso era livre na participação dos estados, sendo que estes tinham regras diferentes em suas competições estaduais ou regionais e adaptavam-se quando participavam do Nacional. Cabe registrar que a partir de 1998 o Governo do Estado de São Paulo, através de convenio, desistiu da realização do Campeonato Nacional, passando esses direitos a Confederação Nacional de Bandas e Fanfarras. No ano 2000, o Ministério da Cultura passou a reconhecer o evento e inclusive patrocinou sua realização com todas as categorias em Brasília, DF. As coisas evoluíram no histórico ano de 2000, quando no Encontro Nacional de representantes de quinze estados na serra de Santo Antonio do Pinhal, SP, decidiram pela unificação do regulamento para o Campeonato Nacional em todo o território brasileiro e ainda reforçaram suas representações estaduais ao determinar de que dele só participariam, a partir de então, as corporações musicais filiadas. Isso, inequivocamente reforçou as representações estaduais e o espaço de posicionamento político do meio tomou forma e peso, ressalvadas as limitações regionais de apoio e atuação em alguns estados. Nesses quinze anos de atuação, e’ necessário registrar, ou relembrar, que houve momentos de instabilidade na vida da CNBF, como o afastamento do Paraná, por três anos e o rompimento com São Paulo, em 2005. Pelas regras, desde sua fundação, a CNBF também cumpriu seu papel institucional e desfilou estados que não cumpriram suas obrigações, como a Bahia, Paraíba, Rondônia,Mato Grosso e Distrito Federal. Alguns se recompuseram e permanecem no quadro nacional, outros estão se recompondo. E’ importante ressaltar que a CNBF e’ uma representação nacional, não regional, susceptível a hegemonia de grupos ou interesses de estados ou regiões. Nós temos o dever institucional de determinar posturas, formas e procedimentos no território nacional em nosso segmento. Essa e’ nossa missão. Por fim, depois de dezessete anos da realização do Campeonato Nacional, um sonho retomado por muitos depois da extinção ao Campeonato Nacional da Radio Record em 1982 , depois de vermos uma das bandeiras de objetivos de fundação da CNBF concretizadas, que e’ o retorno da musica ao currículo escolar, deparamo-nos com uma evolução fantástica da técnica e estilos das nossas corporações musicais. Ao mesmo tempo, somamos ao nosso redor, nomes dos mais expressivos e conceituados do cenário musical brasileiro para compor nossas bancas avaliadoras, assessorias e consultorias. Importante lembrar que a regra inicial, desde os anos 90 prevalece: todos esses nomes são oriundos do meio de bandas! Chegamos, entretanto a uma inquestionável encruzilhada: por mais que os profissionais e respeitados nomes do meio musical brasileiro tenham contribuído para a evolução técnica de nosso regulamento nacional, ainda temos resquícios sérios de artigos dúbios ou falhos que dão brechas a interpretações errôneas e prejudicam trabalhos técnicos de relevância. Falamos em termos técnicos e funcionais das regras do campeonato. Ha, no regulamento nacional, votado e revisado anualmente pela Assembléia Nacional de filiados vícios do passado que privilegiam situações e colocam outras em duvidas. Há excessos de categorias que não se justificam do ponto de vista pedagógico dentro da nossa realidade musical, ainda que respeitadas as culturas regionais. Para sanar essa situação de vez, a diretoria da CNBF deve publicar nos próximos dias o novo formato que norteara’ o XVII Encontro Nacional de Regentes e Dirigentes das Entidades Filiadas a CNBF a ser realizado em local e data a serem divulgados, logo após o Carnaval de 2010. Mais que isso, pela primeira vez, a CNBF pretende abrir as portas a todas as entidades afins existentes no Brasil, estaduais ou regionais, ainda que não filiadas, para que tenham seu espaço e defendam suas proposições, desde que sejam de integração do meio. O objetivo da CNBF, como consta em seu Artigo 3º – A CNBF tem por objetivo e finalidades: a) Congregar as Federações e Associações de Bandas e Fanfarras e entidades afins existentes no território brasileiro, defendendo os seus interesses; b) Buscar meios para o desenvolvimento técnico de seus filiados; c) Coordenar e intensificar a participação ou não de seus filiados em eventos competitivos; d) Manter contatos com órgãos oficiais ou particulares que realizem eventos de interesse dos filiados; e) Difundir o trabalho desenvolvido pelos filiados e os seus eventos. f) Defender os interesses de seus filiados, dentro da Legislação vigente no Território Nacional; g) Estimular e fortalecer a organização de novas entidades musicais; Ronaldo Faleiros EDITORIAL 20/05/2009 NOVOS TEMPOS, NOVOS HORIZONTES PARA AS BANDAS Passadas as tempestades previsíveis, vemo-nos diante de uma realidade premente: novos rumos, novos conceitos, novos estilos, novas posturas. Estamos falando da evolução das bandas no início do século XXI. Das oriundas dos quartéis de todas as armas, daquelas que incentivaram soldados nas batalhas pelo som de seus tambores, das mesmas que puxaram tropas vitoriosas e estudantes em desfiles cívicos e que hoje se tornaram belos espetáculos de música instrumental, sejam nas competições, praças, teatros ou eventos públicos. Quais optar? Nada de novo, se analisarmos que temos um estilo nacional próprio, ainda que passível de influências externas, suscetíveis às características oriundas da evolução tecnológica dos instrumentos de percussão, nosso último reduto no atraso do conhecimento musical, ainda que os ancestrais africanos nos concedam métodos e enciclopédias na Bahia vindos dos seus primórdios. Mas a evolução dos metais na Europa e América do Norte nos influenciou o bastante para que nossas bandas também assimilassem o que estava à mão e o que era possível num passado não muito distante. Pela dificuldade de acesso e tempo para receber as “grandes novidades”, ainda passamos dezenas de anos à espera da realidade instrumental no mundo pulsante além do Atlântico, sejam nas salas de concerto, das bandas nos desfiles patrióticos e festivos ou ainda nos regulares serviços dos quartéis. Enquanto as obras dos grandes compositores clássicos de então por aqui “pipocavam” nas históricas apresentações dos teatros de Manaus, Belém e por último Rio de Janeiro, um abnegado arrebanhava nos portos de Santos, que recebiam imigrantes “as pencas”, os músicos que iam constituir a base de nossa evolução instrumental no fim do século XIX e início do século XX, graças à persistência do maestro Joaquim Antão Fernandes, regente da banda da antiga Força Pública do Estado de São Paulo. Isso consolidou, a partir de São Paulo, o formato até hoje persistente das nossas bandas militares e, por conseqüência, das nossas bandas estudantis. Ressalte-se, porém que a influência migratória naquele momento tem duas vertentes: dos italianos e também dos franceses. O segmento militar brasileiro (do exército) seguiu a linha francesa e os demais (forças auxiliares ou forças menores) tiverem uma influencia maior de italianos. A partir da segunda guerra mundial e com o envolvimento do Brasil no episódio a influência americana passou a predominar em nossas bandas militares, principalmente quanto a repertório e estilo de marcha e mesmo na formação instrumental. A base civil, entretanto, impregnada pelos franceses, premente até hoje nas raízes de estilo no exército e na própria marinha, berço inicial das nossas bandas militares, são a fonte das nossas escolas de bandas escolares e, principalmente, as fanfarras que proliferaram a partir da década de 50 no tendência getulista procivismo contando inclusive com o engajamento histórico de Heitor Villa Lobos. Nos dias de hoje, vivemos a realidade concreta da volta do ensino da música em nossas escolas públicas e particulares, depois de 40 anos de atraso nesse segmento cultural, heroicamente suprido pela persistência das bandas e fanfarras escolares cujas atividades extracurriculares propiciaram o ensino musical a milhares, de forma gratuita, sem diletantismo por parte dos seus aplicadores ou mesmo apoio formal do governo. Tudo isso foi conseguido graças a inúmeros abnegados, centenas de anônimos, principalmente os autodidatas, que agora provavelmente serão banidos ou discriminados ante a nova lei, caso não consigam, num período de três anos (prazo final para a definição do conteúdo oficial da nova matéria), um certificado de habilitação ou especialização. O perigo estará nas intenções e resultados daqueles que suprirão esses postos de imediato em confronto com o resultado da evolução técnica até aqui conquistada, se tais postos forem supridos. Há de se analisar, também, a tendência de uma “urgência de definição de rumos imediata” que em nada vai ajudar a pauta final. Por exemplo, a Confederação Nacional de Bandas e Fanfarras, que tinha como uma de suas bandeiras o retorno da música ao currículo escolar, desde a sua fundação, em 1995, e que foi uma das primeiras cinqüenta entidades de representação nacional signatárias do documento que levou a nova lei, captou nos últimos meses que diretores de escolas da rede pública, ainda desinformados das diretrizes a seguir para cumprimento e implantação da nova matéria obrigatória no ensino fundamental, vislumbraram que possuem instrumentos musicais há muito desativados em seus porões e bastará colocá-los em atividade para cumprir determinada carga horária. Com quem? Por quem? Pelos atuais habilitados em educação artística que continuarão a suprir suas quotas, mas que não são especificamente habilitados em música? Pior, captamos também um expressivo percentual daqueles mandatários escolares que não estão nem um pouco preocupados com a questão, porque simplesmente não acreditam na implantação da nova lei. Seria mais uma lei aprovada a não se cumprir porque sua regulamentação não se concretizará, seja pela quantidade de divergências ou impasses de aplicação, principalmente quando envolve o cumprimento da lei maior, que é a contratação de graduados ou habilitados para o ensino ou matéria específicos. Tem mais: na área mercadológica do ensino, inúmeras escolas particulares de música enxergaram uma fonte nova, imediata, com prazo determinado (três anos) a abocanhar, que é a formação de habilitados em música. Sabe-se que no momento, com relação à nova lei, faltarão especialistas em todo o Brasil para o seu desenvolvimento ou aplicação da matéria. Também temos consciência que existem instituições sérias na área musical em atividade no Brasil, públicas e particulares, mas também não desconhecemos as inúmeras escolas que priorizam o lucro imediato e que a seriedade ou qualidade só vêm à tona quando questionadas, denunciadas ou confrontadas. Para se confirmar isso, basta uma simples pesquisa na internet é já se torna espantosa a quantidade de “escolas de música” que estão oferecendo cursos “on line”, com direito a certificação e tudo. Parece utopia, mas não é. E o pior é que a legislação vigente permite isso. Dá para imaginar alguém “formado ou habilitado” nessas condições? Sem aulas de percepção, análise, conjunto, prática instrumental etc? Há também que se registrar, que as diretrizes educacionais de alguns governos estaduais, como São Paulo, Sergipe e a própria Secretaria de Educação do Distrito Federal, abriram brechas de inclusão da música, já há alguns anos em seus currículos de educação artística, apesar da maioria absoluta não ser executada por especialistas. Afinal, o conteúdo é meramente pontual, ou residual. Mas há exceções: o Colégio Marista de Brasília, por exemplo, onde tivemos a honra de trabalhar, sempre teve como opção para o aluno a escolha da educação física ou a banda. E isso se pratica por lá há mais de 20 anos. A carga horária, freqüência e desempenho seja qual for a escolha tem o mesmo peso na avaliação final do aluno ou aluna. Sabemos que outras instituições seguem essa mesma linha ou diretriz pelo Brasil afora, mas são pouquíssimas. Por fim, há ainda o discurso já posto em prática pelos “inovadores da cultura nacional principalmente na área musical”. Independentemente dos lobbys da indústria instrumental no mundo, temos a preservar uma identidade histórica, genuína, com influências sim, mas nascidas no seio dessa sociedade mesclada de raças ao longo desses 509 anos de existência, mas apenas 201 no desenvolvimento das bandas. Referimo-nos a tentativa de implantação de modelos e estilos de corporações musicais, no caso bandas e fanfarras, foco desse texto, importadas de outras plagas que não são nossa realidade. Por exemplo, as drumms corps ou show bands que empolgam platéias em vários estádios do mundo ou em seus campeonatos específicos não deixam de ter seu valor artístico e cultural, mas quando sua essência tenta aqui ser implantada descobrimos coisas simples que se confrontam com nossa realidade: não temos quadras cobertas com tratamento acústico para tal tipo de apresentação; não temos professores suficientemente especializados ou formados no Brasil na área de percussão ( que é a base desse tipo de corporação ou formação) para implantar uma nova prática. Sem esquecer, ainda, que o desenvolvimento do estudo da percussão em nossas bandas é muito recente (últimos quinze anos no máximo). Isso, sem nos referirmos à acústica de nossos estádios de futebol. Não estamos decretando ou afirmando que não é possível. Estamos apontando que, se houver investimento, se houver formação de especialistas, se houver espaços adequados, quem sabe num espaço de mais 15 a 20 anos, o mesmo tempo que aprendemos que temos que estudar e aplicar técnicas corretas na percussão em nossas bandas, tenhamos conjuntos ou grupos instrumentais diversos, de culturas alheias as nossas e até, como é peculiar do brasileiro, criar um estilo alternativo. É por essas e outras razões, que talvez um dia, inúmeras escolas do Recife, em Pernambuco e outros estados do extremo nordeste, descubram como utilizar uma quantidade expressiva de gaitas de fole estocadas em seus porões desde a invasão holandesa. Se foram utilizadas no passado como uma nova cultura, por que será que não permaneceram? Afinal, a invasão holandesa no Brasil não durou apenas um verão, mas cerca de 50 anos. Isso significa dizer, uma geração inteira. Suas influências estão em todos os lados daquela região, não apenas na arquitetura, mas em muitos costumes. De Recife, passando por Natal até Belém do Pará! Auguremos que primeiro consolidemos as nossas bases, é, as colonizadoras mesmo, certidão de nossas raízes que não podemos negar e as aprimoremos mais ainda para depois absorver os efeitos dos modismos a serem importados ou até suplantar culturas e estilos, em confronto direto com a realidade das bandas e fanfarras brasileiras que levaram 200 anos para adquirirem sua identidade. Com DNA próprio, legítimo. Isso ninguém poderá subverter, desde as colinas históricas das bandas centenárias de Minas Gerais que persistem sem fugir aos seus estilos da época do barroco ‘as grandes inovações das bandas de metais (bandas marciais) do estado de São Paulo ou as fanfarras que proliferam por todas as regiões do Brasil. Já recebemos da mídia perguntas do tipo “mas essa de alunos com uniformes tocarem e marcharem não é coisa do regime militar”? Ou ainda, “escolares desfilando em 7 de setembro atrás de uma fanfarra ou banda não é coisa do passado?” E mais: “as bandas não estão em extinção? Não é poesia dos tempos dos nossos avós?” Normalmente, tentando controlar o “desapontamento da informação questionada”, respondemos que as bandas ou fanfarras no primeiro período do século XXI não estão em extinção no Brasil. Ao contrário, as bandas mudaram e evoluíram muito. Hoje, a maioria, ao invés das tradicionais retretas nos coretos das praças, as bandas musicais que se transformaram em bandas sinfônicas, executam concertos em recintos fechados ( teatros quando os há, cinemas e até igrejas). E o nível técnico é aplaudido por inúmeros especialistas em todos os cantos do Brasil. Muitos, especialistas que advieram delas e hoje tocam em nossas orquestras sinfônicas. As bandas de metais (bandas marciais) que desfilam ou se apresentam em concursos específicos, juntamente com as fanfarras, dão um show visual e sonoro e sempre empolgam o público que as prestigiam. Quanto ao civismo, todas essas corporações musicais, sejam de qual for a categoria, o preserva porque uma das regras, antes de tudo, é a apresentação da bandeira nacional, além de outros valores que são ensinados na disciplina e convivência de grupo. O que a mídia e os meios governamentais ainda não enxergaram, é que esse segmento cultural brasileiro (bandas e fanfarras) é hoje a única atividade cívica ativa no meio da juventude brasileira, sem imposições, exercido de forma espontânea, com altos resultados sociais. Que a lei que tanto almejamos (da volta da música ao currículo escolar) não seja desvirtuada e muito menos manipulada.
Ronaldo Faleiros 23/04/2007 A RESPONSABILIDADE, A OMISSÃO E A INDIFERENÇA A priori, deveríamos estar escrevendo ou comentando os debates e resoluções do último Encontro Nacional do nosso meio, realizado no início de março em Barra Mansa, no estado do Rio de Janeiro, o que será feito a posteriori. No momento, o assunto mais premente, que se faz necessário, ante a sua importância para o cenário musical brasileiro e que poderá modificar profundamente a criação e sustentação das corporações musicais no seio da juventude desse País, é a possibilidade real do retorno da musica ao currículo escolar. Conforme detalha o noticiário no site da CNBF, um grupo distinto de profissionais da área musical, comprovadamente do melhor escalão, tomou a feliz iniciativa de encaminhar ao Senado Federal, um documento, em forma de Manifesto, reivindicando a implantação, ou retorno, da música no ensino fundamental. Em primeira análise, seria mais uma das tantas tentativas que já ocorreram desde a fracassada grande oportunidade na reforma constitucional de 1988. Na época, os diretamente principais interessados, como a indústria nacional de instrumentos, investiram pesado num lobby que não alcançou o objetivo. Seguiram-se outras tentativas, de vários segmentos musicais, todas sem sucesso a nosso ver por um vício de origem: ora da área política, ora dos setores do comércio educacional musical, ora das indústrias. Em segunda análise, poderíamos perguntar por que esse novo e seleto grupo reivindicante não partiu para a solução constitucional de se colher um milhão de assinaturas e encaminhar diretamente a proposta em forma de projeto ao Congresso? Concluímos que a forma escolhida, a do Manifesto, foi a mais objetiva, uma vez que define as razões sem vícios e estende ‘a reflexão todos os segmentos musicais interessados, fornecendo tempo ao debate racional dos interesses do meio musical. Vários segmentos estão se somando a essa ação, que a cada dia se torna mais forte. Pelas últimas notícias captadas junto ao Senado Federal, poderemos ter realmente em breve um projeto de lei em andamento. Analisando todas as adesões, constatamos infelizmente que há setores importantes que estão se omitindo. Alguns diretamente ligados a área acadêmica. Não se justificaria ai a falta de informação, uma vez que todas as universidades do País ( públicas e particulares) foram chamadas a compor essa iniciativa. Por outro lado, especificamente no segmento bandas e fanfarras, comprovamos mais uma vez, claramente, que algumas organizações que se intitulam defensoras do meio, alimentando sites com comentários e promoções duvidosas, simplesmente adotaram a posição da indiferença com relação a esse movimento. Só esperamos que, quando o ato tomar forma, os caronistas de última hora não se apresentem como salvadores da cultura musical. Ronaldo Faleiros 02/04/2006 HORA DE SOMAR E CRESCER A própria história brasileira nos mostra que enquanto grupos e idéias revolucionárias digladiaram-se entre si, as subdivisões provocaram desgastes e até desvirtuamento em relação à causa comum, redirecionando os objetivos para interesses pessoais, e não coletivos. Ao retomarem a essência da causa, pressupondo-se de origem nobre, mesmo quando vitoriosa, constatamos que os anos perdidos deixaram seqüelas de minorias inconformadas. Daí a principal explicação das ojerizas pessoais que, a priori, só sobrevivem à sombra e a distancia do fórum original de discussão. Na prática da democracia, ou mais especificamente na prática democrática da busca por um consenso de objetivo cultural comum, como é nosso segmento (bandas e fanfarras), conseguiu-se nos últimos dezesseis anos um avanço extraordinário quando o meio acreditou e convenceu-se que só se faria ouvir quando organizado em representações de classe. Essas representações, federações e associações, hoje existentes em 20 estados brasileiros, inicialmente foram criadas para buscar um caminho e regras comuns, que proporcionassem o que todos almejavam: o crescimento, reconhecimento e valorização de nossas corporações musicais no cenário nacional. Infelizmente, também constatamos que no cerne dessas iniciativas, também se embutiram interesses políticos pessoais em algumas regiões, em outras pura e simplesmente a manutenção do exercício “feudal” do domínio sobre aqueles que não têm acesso a informação e se faz de tudo para que continuem não tendo, ou que se permaneça a “dependência política ou técnica do olho único em terra de cego”. Experiências, erros e acertos à parte, é fato, também, que em toda a prática democrática existam divergências e discordâncias. Mas o próprio sistema igualitário de direitos de opinião e ações, à forma da lei das organizações representativas, também fornece as ferramentas corretas para que as opiniões sejam respeitadas ou se tornem práticas do interesse geral. Dentro do nosso segmento, criou-se a Confederação Nacional de Bandas e Fanfarras. Um fórum amplo, cada vez mais representativo no território nacional. Entretanto, como em todos os demais segmentos democráticos da vida brasileira, há divergências. Elas são debatidas e chega-se a um consenso em assembléias, ordinárias e extraordinárias. Em reuniões de diretoria e assembléias nas representações estaduais.Todos sob a égide de um Estatuto elaborado na forma da lei e da democracia. As discrepâncias, de ordem disciplinar e ética, contam até com um Tribunal específico, calcado num minucioso estudo jurídico, já aprimorado duas vezes, que só valoriza o meio e seus objetivos. Mas ainda existem as ações de inconformados, de discordantes que se recusam a fazer uso da palavra e seus direitos e preferem induzir outros, incautos, desprovidos de opinião própria. Sem julgamento de valor, só fica visível que, ao invés de participarem democraticamente de todos os debates e ações que a maioria das entidades buscam cumprir, onde expõe suas teses, opiniões e sugestões, preferem as sombras e a divisão, ou subdivisão em correntes que, em princípio, deveriam buscar o objetivo original. Infelizmente o que se constata é que as ações são de interesse ou indiosincrazias pessoais ou de hegemonia regional e até mesmo de imposição técnica usando-se até artifícios de acesso econômicos. Se o caminho a seguir tem variantes, também é direito de quem quiser, buscar sua opção. Mas se o objetivo a alcançar é um só, acreditamos que todos, juntos, poderemos chegar mais depressa, sem dispersões. Pelo menos para aqueles que pensam da mesma forma. Os demais mostrarão naturalmente a que vieram, mais cedo ou mais tarde. Nesse ponto, a própria historia da sobrevivência das bandas e fanfarras no Brasil, à margem das políticas culturais, já produziu alguns exemplos. Ronaldo Faleiros |

